COLUNA JC/BH – Uma praça, um abraço

Por Bernardo Farkasvölgyi //

 Hoje de manhã caminhei pela cidade. Deixei o carro em casa e preferi vir ao trabalho a pé. No trajeto, parei em uma praça. Sentado ali, vi jovens, crianças, idosos, casais e caminhantes solitários. Uma infinidade de movimento e também de calma. Pessoas que, assim como eu, aproveitavam um respiro em meio à correria de uma metrópole. Foi ali que, mesmo sabendo da importância que esses espaços têm para o cenário urbano, a relevância das praças se tornou ainda mais clara para mim.

Esses locais, ao serem capazes de dar vida ao cenário urbano, sempre tiveram um valor social inestimável e determinante para o desenvolvimento da nossa capital. Quantas amizades, romances e conversas importantes devem ter acontecido no mesmo banco em que me sentei? Incontáveis. Sem dúvida, as praças representam os espaços urbanos por excelência. São pontos de convergência de caminhos, de encontro, de parada, de manifestação, de caminhada. Locais de interação e símbolos inegáveis da identidade de qualquer cidade.

Quando pensamos em Belo Horizonte, por exemplo, é difícil não ter em mente a Praça da Liberdade. Um de nossos maiores símbolos, ela faz parte da história belo-horizontina – vale lembrar que sua construção foi iniciada no período de inauguração da capital. Mas, mais que um símbolo, a praça é um monumento vivo e pulsante, que funciona, permanece e se transforma a partir do uso que as pessoas fazem dela.

Se esses espaços, de enorme importância, podem conjugar tantos usos e apropriações, por que não valorizar praças e pontos de encontro já existentes e agregar ainda mais espaços do gênero à nossa malha urbana?  É legítimo desejar para a cidade mais áreas que sejam fluídas e acessíveis. Procuramos continuamente estimular a criação de zonas e paragens verdes e de respiro, implementando-as em nossos projetos.  Ao trabalhar com terrenos que poderiam ter como uma de suas características mais pujantes a limitação, tanto física quanto visual, buscamos fazer o contrário: oferecer soluções que devolvam esquinas, passagens e zonas de fluxo e descanso à cidade e àqueles que nela habitam.

Todos nós já passamos por uma esquina ou inteiros quarteirões que não representam nada além de um muro. A possibilidade de abater esse elemento opressor que não permite interação pode se tornar uma realidade mesmo quando se trata de um terreno privado. Ou seja, é preciso valorizar projetos e espaços que se abrem para a cidade, que conversem com ruas e calçadas e que promovem a gentileza urbana. Quanto mais integrarmos esse tipo de proposta ao cenário belo-horizontino – criando fluxos, trânsitos, usos e vivências antes não existentes – melhor a nossa cidade pode se tornar.

A verdade é que todo espaço urbano que acolhe, seja grande ou pequeno, seja um ponto sombreado ou uma praça para multidões, metaforicamente – em maior ou menor escala – representa um abraço que a cidade nos dá. Imagine um alinhamento entre Poder Público e setores privados buscando estimular a criação de mais espaços como esses? Que belo abraço coletivo seria.


JORNAL DA CIDADE BH / Edição de 22 a 28 de novembro de 2019

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